Por Anderson Rosa
Muitas pessoas se iludem com o aprendizado do Tai Chi Chuan. Ao ver pessoas de idade avançada praticando em praças, alguém pode imaginar que é uma prática leve e fácil e que não exige nada mais do que movimentar-se para se obter os benefícios do Tai Chi Chuan.Não poderiam estar mais enganados. Pois, fazer o Tai Chi apenas como repetição, é repetir uma coreografia, e nada mais. Aliás, aí reside a principal diferença entre praticar Tai Chi e praticar Tai Chi Chuan. Quando vemos o termo Chuan, este se refere ao termo “punho”, que por sua vez designa “Arte Marcial”.
Retomando a questão da coreografia, a mera repetição da forma, é uma prática vazia, sem benefícios reais ao praticante. O motivo deste pequeno texto é explicar o porquê.
Na prática do Tai Chi Chuan, é sempre importante ter contato com um professor habilitado não apenas na repetição, mas também do seu entendimento. E isso gera um encadeamento de causas e consequências, que se define pela “linhagem”. Ou seja, se tenho um bom professor, é porque ele teve um bom professor e este idem, e assim por diante. E da mesma forma, também serei um bom professor se for um bom aluno.
E quando um professor ensina o seu aluno, ele dá ênfase em alguns aspectos importantes que devem ser respeitados, evitando negligencia-los, parcial ou integralmente, e que são:
1) Perceber o próprio corpo – é o primeiro passo, pois normalmente, acreditamos que conhecemos o nosso corpo, mas quando tentamos repetir movimentos de uma dança que vemos na televisão, vemos que não é tão simples assim. E esse desenvolvimento da consciência corporal é muito importante para que a forma possa se tornar fluída. Este passo é de vital importância para o desenvolvimento dos demais. Não adianta buscar o cultivo do Qi(Chi) sem antes entender o próprio corpo e como ele se movimenta, e ainda as relações entre todas as partes : parte superior e inferior, coordenar mãos e pernas, relaxar o quadril, fortalecer as pernas (são alguns dos itens importantes).
2) Perceber a intenção – Junto com o movimento, deve ficar claro ao praticante o que esses movimentos representam, e para onde eles se dirigem. Porque manter uma perna cheia e outra vazia, quando olhar para as mãos, a altura correta das mesmas em relação ao rosto em determinados movimentos, como e quando trocar o peso, etc. Esse passo é muito importante, mas só terá sucesso se o primeiro passo for cumprido adequadamente, pois sem perceber o corpo, é quase impossível perceber como a intenção o dirige.
3) Coordenar a respiração com o movimento – Para que a movimentação seja harmoniosa, é importante conciliar a mesma com o movimento, dessa forma o corpo irá aproveitar melhor a energia gerada por este, evitando uma sobrecarga do sistema. Um dos sinais que o praticante precisa ajustar sua respiração, é quando há um cansaço extremo em uma prática relativamente leve. Isso é um sinal de sobrecarga e descompasso entre o movimento e a respiração. Quando a respiração ocorre em ciclos adequados, e em quantidade suficiente, esses sinais desaparecem. Esse item também só ocorre quando os anteriores são cumpridos, pois é praticamente impossível controlar a respiração quando o corpo se move como um boneco de posto. Mas obtendo-se esse controle, a respiração irá ser curta quando necessário, explosiva por exigência do movimento, ou tranquila, quando o movimento assim indicar.
A partir deste ponto, falamos mais das consequências do sucesso nos itens anteriores.
4) Quando o controle da respiração é obtido, o sangue seguirá a respiração. O sangue será movido de acordo com a respiração, aumentando ou diminuindo a pressão quando e onde for necessário. Isso irá fortalecer o movimento, e providenciar uma irrigação adequada de todas as partes do corpo.
5) O Qi (a energia) seguirá o sangue, pois o sangue é a Mãe do Qi. Quando o nível do Qi está muito baixo, é necessário alimentá-lo com a energia do sangue. Quando o filho está pronto, ele deixa a casa dos pais e assume sua própria vida. Portanto, é preciso praticar corretamente, e dessa forma o sangue irá circular com força e saúde, e em pouco tempo será possível perceber o Qi circulando pelo sangue.
Quando o Qi estiver forte o suficiente, ele irá se separar do sangue, e será muito mais rápido que este. Desta forma, a distância entre pensar num movimento e a sua realização será quase inexistente.
Mas para que tudo isso ocorra, é necessário antes o cuidado da forma, pois ela irá trazer energia para o corpo. Mas sem a forma adequada (itens 1 e 2), nada acontecerá.
O processo onde a mente deve orientar e guiar o Qi não é um processo imaginativo. Se usar apenas a imaginação, o Qi estará tão imóvel como no início do processo. E para que a mente induza o Qi, ela precisa compreender sua natureza, não num processo intelectual, mas pela sua manifestação no corpo. Portanto, todos os esforços do praticante devem ser dirigidos ao objetivo de praticar diligentemente, até que o Qi se manifeste no corpo.